Uma amostra lunar da histórica missão Apollo 17, que permaneceu lacrada por quase 50 anos, está agora revelando informações cruciais sobre a geologia da Lua. A amostra, identificada como número 73002, foi aberta e seu estudo aprofundado trouxe novas compreensões sobre o enigmático “manto leve” na superfície lunar.

Crédito da imagem: NASA / ESA – Apollo 17 Rock Sampling
A Descoberta Histórica e Seu Contexto
A missão Apollo 17, a última viagem tripulada do programa Apollo a pousar na Lua, ocorreu em dezembro de 1972. Durante esta missão, os astronautas Eugene Cernan e Harrison “Jack” Schmitt coletaram diversas amostras do solo lunar, incluindo o material que seria estudado décadas depois. Uma das amostras foi selada a vácuo ainda na superfície lunar, em um cilindro de 36 centímetros, e transportada para a Terra, onde foi armazenada no Centro Espacial Johnson da NASA, em Houston, mantendo-se intacta por quase meio século.
A decisão de postergar a análise dessas amostras por tanto tempo foi estratégica. A agência espacial acreditava que o avanço da ciência e da tecnologia permitiria, no futuro, um estudo mais detalhado e conclusivo do material. Essa previsão se concretizou, possibilitando agora a exploração de questões que antes eram inacessíveis.
Abertura e Primeiras Análises da Amostra Lunar 73002
A abertura da amostra lunar, que ocorreu em março de 2022, marcou um momento significativo. O processo delicado teve como um dos objetivos primários a extração de possíveis gases lunares, que poderiam fornecer informações sobre a evolução dos elementos voláteis na Lua e no Sistema Solar. A amostra 73001, outra porção do material coletado no mesmo período, também foi mencionada por pesquisadores em 2022, focando em material recolhido de um deslizamento no vale Taurus-Littrow.
A principal autora do estudo mais recente, Giulia Magnarini, pesquisadora do Museu de História Natural de Londres, destacou a importância contínua do legado das missões Apollo e como essa pesquisa serve de ponte para o futuro programa Artemis da NASA.
As Revelações Sobre o “Manto Leve” na Lua
Os fragmentos lunares da Apollo 17, e especificamente a amostra 73002, têm revelado novos detalhes sobre o chamado “manto leve” (light mantle, em inglês), uma formação geológica na superfície da Lua com aproximadamente cinco quilômetros de extensão e dois de altura. A origem desse elemento tem intrigado os cientistas por décadas devido à sua formação peculiar e desconhecida.
O estudo indica que o “manto leve” foi formado pelos restos de um antigo deslizamento de terra na Lua, cujas causas exatas ainda não são totalmente compreendidas. Giulia Magnarini, especialista em deslizamentos, ressalta a singularidade do “manto leve” como o único conhecido na Lua e a incerteza sobre como um deslizamento de tão longa distância se formou e se estendeu por quilômetros.
Uma das descobertas mais notáveis é que o material mais fino que reveste os clastos (fragmentos de rocha) no núcleo da amostra provém do próprio clasto, e não de detritos circundantes. Isso sugere que os clastos se fragmentaram e permitiram que o deslizamento escoasse “mais como um fluido”.
Hipóteses para a Formação do Deslizamento
Para explicar o deslizamento que formou o “manto leve”, os especialistas consideram diversos cenários, incluindo:
- Impactos de asteroides.
- Detritos de uma montanha próxima.
- Atividade sísmica.
Uma hipótese em investigação é que detritos da formação da cratera lunar Tycho podem ter atingido o Maciço Sul, desencadeando o deslizamento que deu origem ao “manto leve”.
Implicações para o Futuro da Exploração Lunar
A análise dessas amostras históricas não apenas aprofunda nosso conhecimento sobre a Lua, mas também serve como uma preparação crucial para as futuras missões do Programa Artemis da NASA, que visam o retorno de humanos à superfície lunar. Compreender fenômenos como os deslizamentos lunares, especialmente sem a presença de chuva como na Terra, é fundamental para a exploração segura e eficaz do satélite natural.

