Uma descoberta paleontológica de grande relevância na Síria revelou um fóssil de tartaruga marinha com aproximadamente 50 milhões de anos, que surpreendeu a comunidade científica. Este achado, batizado de Syriemys lelunensis, representa o primeiro vertebrado fóssil nomeado para o país e recua em mais de 10 milhões de anos a origem de uma linhagem extinta de tartarugas.

Créditos: Imagem de Tiia Monto, via Wikimedia Commons (Licença CC BY-SA 3.0)
Descoberta Inesperada e Resgate Científico
A história da descoberta remonta a 2010, quando Muhammad Al-Ibrahim, proprietário da pedreira Al-Zarefeh na Síria, encontrou dois fragmentos de um animal fossilizado após uma explosão controlada para quebrar blocos de calcário.
O material foi então transferido para o escritório do Estabelecimento Geral de Geologia e Recursos Minerais (GEGMR) em Aleppo, onde permaneceu por 13 anos sem ser devidamente estudado. Somente em 2023, o fóssil foi catalogado, e sua descrição científica foi recentemente publicada por uma equipe internacional de pesquisadores.
A Importância da Syriemys lelunensis para a Paleontologia
A espécie recém-descrita, Syriemys lelunensis, é o registro mais antigo conhecido da linhagem Stereogenyini, um grupo extinto de tartarugas side-necked (Pleurodira), que se caracterizam pela retração lateral do pescoço.
Este avanço é crucial para a compreensão da evolução e distribuição geográfica desses quelônios. O professor Max Langer, coordenador do Laboratório de Paleontologia (PaleoLab) da USP em Ribeirão Preto e um dos autores do artigo, destacou a relevância do achado: “É uma situação complicada na Síria e, diante da tragédia, parece até irreal ficar falando de fósseis. Mas, ao mesmo tempo, mostra o potencial do país e que a ciência está viva. São materiais que podem ser resgatados se adequadamente estudados.”
Colaboração Internacional e o Papel de Wafa Adel Alhalabi
A pesquisa que culminou na identificação da Syriemys lelunensis foi um esforço conjunto de cientistas do Brasil, Síria, Alemanha e Canadá. A primeira autora do artigo é Wafa Adel Alhalabi, pesquisadora síria naturalizada brasileira, que integra o PaleoLab desde 2016. Ela teve um papel fundamental no estudo, tendo visto e fotografado pessoalmente o material.
A pesquisadora chegou ao Brasil após a intensificação dos conflitos em seu país natal e tem sido uma ponte essencial para o estudo de fósseis sírios. O grupo de pesquisa já havia publicado um trabalho sobre um plesiossauro, que gerou grande interesse na Síria e motivou o convite para estudar a tartaruga. Atualmente, negocia-se o encaminhamento de outros fósseis para o Brasil, enriquecendo ainda mais as pesquisas.

